quarta-feira, julho 08, 2009

Antigo quartel-sede dos Bombeiros Voluntários de Queluz

Um imóvel com passado… e futuro!?

A monografia que entendemos destacar durante o mês de Fevereiro, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Queluz. Apontamentos para a sua História, 1921-2005, com textos e coordenação de Salvador da Luz, ex-presidente da Direcção da mesma instituição e destacado dirigente das estruturas representativas dos bombeiros portugueses, editada em Outubro de 2006, propicia a apresentação de uma proposta de roteiro.

Assim, aos amantes da história e do património que optem por uma incursão turística pela região de Sintra, propomos que façam paragem no antigo quartel dos bombeiros Queluzenses, apesar de este não se encontrar aberto ao público. Localizado nas imediações do Palácio Nacional de Queluz, no Largo Mouzinho de Albuquerque, o referido imóvel, em apreciável estado de conservação, exceptuando os graffitis, constitui um bom exemplo do tipo de edifícios que outrora serviram de aquartelamento aos corpos de bombeiros, sobretudo, na vulgarmente designada “província”. Ou seja, é testemunho do tempo em que o quartel-sede de uma associação de bombeiros se cingia aos gabinetes da Direcção e do Comando, posto de socorros e parque de viaturas. Contrariamente ao que mais tarde veio a generalizar-se através da construção de novos quartéis, poucas instalações dispunham de camarata para pessoal de piquete no período nocturno (os voluntários pernoitavam nas suas residências, conhecendo-se situações em que os corpos de bombeiros dispunham de rede telefónica interna, com ligação aos primeiros, a fim de garantirem pronta resposta no socorro) e de sala destinada à ocupação dos tempos livres. Não obstante as limitações e, como tal, os poucos incentivos, os efectivos dos corpos de bombeiros voluntários revelavam-se numerosos e assíduos. Por sua vez, perante a inexistência de casa-escola, a fachada de qualquer edifício de maior envergadura era o bastante para a instrução do pessoal, vendo-se esta consubstanciada, essencialmente, em exercícios com manobras de escadas e no estabelecimento de mangueiras. De Norte a Sul do país, a construção de um esqueleto de madeira equivalente a vários pisos, junto ao quartel, satisfazia, também, as necessidades de instrução dos corpos de bombeiros.

“…as velhas instalações do Largo Mouzinho de Albuquerque convidam a uma reflexão sobre o seu reaproveitamento para fins de utilidade pública dada a sua localização e vocação. Criar um espaço museológico, por exemplo, poderia ser uma solução a equacionar e incentivar” Salvador da Luz

O antigo quartel dos Bombeiros Voluntários de Queluz (BVQ), que ainda hoje mantém instalada, na cobertura, a velha sirene para chamada dos voluntários, bem como, no frontão, as letras correspondentes à sigla BVQ, reporta-se a 1934.

Afecto ao Palácio Nacional de Queluz, o edifício foi cedido para instalação do quartel-sede, à Sociedade Benemérita de Queluz (antiga denominação da Associação), pela Repartição do Património.

Anteriormente, o espaço acolheu um depósito de carvão, facto que obrigou a trabalhos de recuperação e adaptação, os quais foram assegurados pelos próprios bombeiros, que para o efeito desenvolveram uma “luta titânica”, devido à “falta de recursos financeiros”, descreve Salvador da Luz.

Tratou-se do primeiro quartel-sede condigno que a associação teve desde a sua fundação, verificada em 2 de Outubro de 1921, pois o material de combate a incêndios permanecera sempre guardado sob as arcadas do Palácio.

A inauguração oficial do aquartelamento veio somente a ocorrer no dia 16 de Maio de 1937, depois de vencidas muitas vicissitudes, tendo sido convidados para as respectivas cerimónias o governador civil do distrito de Lisboa, o presidente da Câmara Municipal de Sintra e o administrador do concelho, entre outras entidades. O momento prestou-se ainda ao baptismo de um pronto-socorro e de um transporte de pessoal, seguido de desfile pelas ruas da então vila de Queluz, abrilhantado pela Banda da Sociedade União Sintrense.

Reaproveitamento para fins de utilidade pública

O velho edifício serviu de quartel-sede até 1977, ano no qual foram inauguradas as actuais instalações da Rua D. Pedro IV, entretanto ampliadas na última década do século passado.

O autor da monografia em destaque termina a parte reservada ao primeiro quartel-sede referindo que “as velhas instalações do Largo Mouzinho de Albuquerque convidam a uma reflexão sobre o seu reaproveitamento para fins de utilidade pública dada a sua localização e vocação. Criar um espaço museológico, por exemplo, poderia ser uma solução a equacionar e incentivar”.

Tais palavras, que subscrevemos em absoluto, mantêm-se plenas de actualidade e por isso é importante recordá-las, destacando-as, a começar pelo facto de o imóvel permanecer fechado, para efeitos de arrumos da associação.

Embora não sendo objecto da História fazer futurologia, estamos certos de que o veículo antigo estacionado no interior do mesmo edifício, a exigir reparação, mais o valioso espólio exposto na sala-museu e noutras dependências das actuais instalações dos BVQ, cuja visita recomendamos vivamente, configurariam um interessante espaço sociocultural e dignificariam, muitíssimo, o longo trilho dos “soldados da paz” de Queluz, em particular, e de Portugal, em geral.






Nota: Fotos antigas retiradas da monografia Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Queluz. Apontamentos para a sua História, 1921-2005

Escrito por Luís Miguel Baptista no blog Fogo & História

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