Se Jesus Cristo vivesse em Portugal...

Ora bem, estamos de férias -ou em muitos casos, de fim de semana prolongado. Como tal, confesso que só me apetece escrever sobre lugares paradisíacos, passeatas com a família e limpezas de Primavera. Porém, isso não tem interesse nenhum. Já que estamos na Páscoa, aproveito a embalagem e falamos disso mesmo, mas numa perspectiva diferente. E se Jesus Cristo vivesse hoje em dia no nosso país?

Bem, para começar, a acusação: ser acusado de estar a denegrir a Casa de Deus, dizendo que ele era o filho enviado. Bem, se fosse no nosso país, isto ía para tribunal e arrastava-se durante anos e anos e anos. No final, resultaria certamente numa multa que Jesus deveria pagar, mas como estamos todos tesos, ia passar uns meses ao hotel prisional. Mas vendo bem as coisas, Jesus não foi lá muito esperto. Ao saber que Judas o tinha traído, tinha-o processado por agir de má fé e por querer denegrir a sua imagem – certamente que as coisas parariam por aí e nada disto tinha acontecido! Avançando um pouco mais, o caminho percorrido: havia de ser lindo e bonito se isto fosse hoje em dia.. ai havia, havia!! Desde quando é que o senhor criminoso é trasportado assim? E as instalações de espera até ir para o Monte do Calvário? Cá em Portugal temos uma norma que jamais deverá ser infrigida – criminoso que é criminoso, mas criminoso a sério, daqueles maus, é tratado com pompa e circunstância. Se for preciso até se lhe dão mimos. Nem tempo houve para preparar a sua defesa. Tome como exemplo os terroristas da ETA capturados em território nacional, em que tudo foi feito para que pudessem preparar a sua defesa com todo o tempo do mundo…
Já no caminho, há algo que também não percebo. Quando lhe limpam a cara e o ajudam a suportar o peso da Cruz. Então mas não são os polícias que o acompanham que devem fazer isso? É o que estamos habituados a ver e se não vemos, saltam logo as famílias a reclamar que os meninos estão a ser mal tratados! E o mais flagrante, o mais surreal de tudo… As chicotadas e maus tratos corporais. Efectivamente, o Profeta não agrediu nenhum polícia. Mas se o tivesse feito, ao levar a chicotada, lá saíria safo de novo… os polícias não podem proteger-se a si nem à restante população. Se Jesus o tivesse feito, lá ia a chicotada para tribunal e, se se tivesse aleijado muito, lá vinha o gangue do Salvador para “limpar” o malvado polícia…! Temos ainda mais dois momentos que, se acontecessem hoje em dia, poriam o Cristianismo em causa. A crucificação e o próprio jazigo. Na crucificação, Jesus e os familiares poderiam mais uma vez recorrer ao tribunal, alegando que os romanos estavam a ter comportamentos discriminatórios. Então mas o que é lá isso de pôr Jesus de tanga? Estão a chamar-lhe o quê? Pobretanas, puto “charolas”, gay? Querem que ele passe frio, é? O jazigo, por sua vez e por razões óbvias, seria fechado pela ASAE. Queremos é tudo limpinho, arrumadinho e desinfectado.
Não leve esta crónica a peito se é religioso, até porque não tem nada a ver com religião. Tem a ver com o estado cá do sítio. Apesar de ser dia das mentiras, é bem verdade o que lhe digo.
Óptima Páscoa,
Até para a semana,