“O que está em causa é money for the boys”. A frase é do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, e foi proferida no dia 11 de Março na Assembleia da República, na discussão sobre o Orçamento de Estado.
Quando ouvi a dita tirada, pus várias hipóteses:
- o ministro das Finanças resolveu fazer um acto de contrição público pelos magodes de assessores (nomeados) que preenchem os vários gabinetes governamentais desde há décadas (a começar pela própria pasta que tutela): “ele” é assessores, adjuntos, secretárias, tudo bem pago e nem sempre com trabalho para apresentar
- o ministro das Finanças decidiu moralizar (nos critérios de escolha e nos gastos) tudo o que envolve a constituição (por nomeação) dos gabinetes dos diversos grupos parlamentares, quer na Assembleia da República, quer no Parlamento Europeu
- o ministro das Finanças vai acabar com a nomeação de jovens empreendedores políticos (principescamente remunerados e sem curriculum) transformados em gestores com o objectivo oculto de serem comissários políticos e emissários pessoais nas empresas participadas por capital público.
- o ministro das Finanças quer pôr fim à “pouca vergonha” dos milhões de euros gastos em consultoria (estudos, pareceres, comissões, etc), cuja relevância e mérito dos seus agentes é muito discutível
- o ministro das Finanças empenhar-se-á em tornar menos opaco e esbanjador, no mínimo, o critério de selecção e respectiva remuneração dos governadores civis e dos delegados do Instituto Português da Juventude
- aí temos os nossos governantes a tratar a sério da questão do financiamento dos partidos políticos,
Afinal estava enganada. O ministro da Finanças, no seu afã de poupar dinheiro onde puder sem olhar a meios, não queria mexer nestas seis fontes de despesismo beneficiadoras (muitas vezes) de gente sem competência (nomeada) e/ou de estruturas que em nada melhoram a vida do Estado e dos cidadãos.
O ministro das Finanças referia-se, afinal, à verba para pagar os salários dos Presidentes de Junta de Freguesia. Referia-se a cinco milhões de euros para pagar 14 meses de salários aos 4260 Presidentes de Junta de Freguesia democraticamente eleitos.
Ignóbil, sem dúvida, a forma como este ministro do Estado e das Finanças (des)considerou aqueles que são os eleitos mais próximos da população, pior pagos e que, em tantos casos, mais trabalham em prol da comunidade.
Em primeiro lugar, pela ideia da própria “dieta”, que é formal e substancialmente inaceitável: formalmente porque os Presidentes de Junta são eleitos; substancialmente porque realizam um óptimo trabalho (regra geral), muito além da remuneração que usufruem.
Em segundo lugar, pelo lamentável expediente através do qual a ideia foi apresentada: se o desejo de poupar no erário público justamente à custa de quem tanto faz pela população é já de si um erro repugnante, a adjectivação e pretensa justificação para tal proposta é insultuosa e revela a nula dimensão política e republicana de um tecnocrata (sem juízos de valor sobre a sua qualidade enquanto tal).
O modo/local também é bizarro: a casa da República (Parlamento), lamentando eu que não tivesse havido um simples reparo do Presidente da Assembleia da República.
Por fim, não posso deixar de me envergonhar pelo facto desta infeliz frase sair da boca do ministro de um governo socialista.
Por isso, mais do que a veemente crítica que atrás expressei, quero deixar, em meu nome pessoal, de uma socialista que é Presidente de Junta de Freguesia, um duplo pedido de desculpas: aos meus caros homólogos e aos prezados eleitores que confiaram o seu voto no PS.
Fátima Campos
Presidente de Junta de Freguesia de Monte Abraão
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